As crianças e a guerra contra o tráfico

As crianças estão alarmadas com a situação e com o que vêem na televisão. O Thomaz me liga a noite perguntando onde estou e se não tenho medo:
- É uma guerra civil, mamãe! Tem carro sendo queimado, tanques no meio da rua, volte para a casa!

A Anita me pergunta:
- Mamãe, de onde vêm os bandidos?
- Como assim, Anita? Dá barriga da mãe deles, ora!
- A mãe deles também é bandida?
- Não, Anita! Entro explicando que a bandidagem é uma opção feita pelos homens em função da vida que lhe é ofertada, imposta, falta de dinheiro, educação, amor, carinho, comida, valores morais e éticos e algumas vezes ser bandido é o caminho mais natural, mais fácil, dadas tantas dificuldades.
Eles, simplesmente, me olham e mudos tentam compreender.

Thomaz ontem quando olhou pela varanda e viu o dia nublado:
- Dia cinzento, um dia com cara de bombardeio!

Essa noite

Azar

- Anita, pare de brincar com o espelho da Renata!

- Por quê?

- Dá azar se quebrar.

- Pra quem, pra mim ou pra Renata?

Empreendedores

- Mãe, quando eu crescer vou ser professora de nado sincronizado.

Depois de promover evento de empreendedorismo pra Semana Global de Empreendedorismo, a resposta que vem é:

- Menina, você vai ter sua própria escola de nado sincronizado, imagine como vai ser legal. 

Na hora de dormir o assunto volta:

- Mãe, vou ter minha fábrica de brinquedos - diz o Thomaz. Vou fazer brinquedos de moléculas, as moléculas terão um chipp que obedecerão à voz , as moléculas irão se transformar nos brinquedos que as crianças quiserem, você diz avião e as moléculas criam um avião!

Esse é o Thomaz, tomara que ele continue sempre assim!

Contrariando a lógica

Anita fez malcriação pra Renata e ficou de castigo, chorou horrores e óbvio fez o maior drama:

- Todo mundo me odeia!!!

- Anita, eu te amo, somente estou te deixando de castigo.

- Todo mundo me odeia - repete a bendita.

- Todo mundo quem?

- Você!!!! Buáááááá´!!!

- Anita, se eu te amo e se eu sou todo mundo, então todo mundo te ama!!!

Ela sentou-se na cama, me olhou por um instante e continuou chorando: 

-Buááá!!!! 

Acho que ela não concordou com o raciocinio.

Transformação do DNA

Geralmente quando perguntamos a uma criança o que ela quer ser quando crescer, esperamos uma resposta relacionada à profissão. Ora, a pergunta pede uma resposta do tipo professora, bailarina, médica, astronauta, skatista, designer, artista de circo, sei lá..... Essa resposta a Anita deu quando tinha quatro anos:
- Anita, o que você quer ser quando crescer?
- Japonesa!!!

Cheiro orgânico

Cheguei em casa toda suada da academia, o Thomaz veio me abraçar e me vem com essa:
- Mãe, você tá com um cheiro orgânico...
- Cheiro de quê? Pergunto eu entre curiosa e divertida.
- Orgânico, natural...
Esperava alguma coisa como cheiro de galinha como as crianças suadas, fedorenta, sei lá...
- Cheiro de sementes orgânicas mofadas!!! Manda ele.
Vem a Anita e me cheira também:
- É mãe, você está com cheiro de salada!
Acho que é um complô contra minha alimentação crudívora, mas por via das dúvidas estou indo agora perguntar à Renata!


P.S - A escolha das cores foi uma decisão do Thomaz e Anita!

Eleições

A Renata me relatou as preocupações da Anita com as eleições:

- Agora que a Dilma ganhou, o que o Lula vai fazer? Pra onde ele vai?

- O que a Dilma vai fazer pro Brasil ficar melhor?

- Na minha classe, a Dilma não ganhou, votei na Marina!

Dá para acreditar essa criaturinha tão pequeninha votando na Marina e preocupada com plataforma política do presidente?!

- Quando eu for presidente do Brasil vou dar luz pra todo mundo, não vou cobrar ( Fala um Thomaz indignado porque a mãe dele esqueceu de pagar uma conta atrasada e cortaram a luz)!

- Thomaz, sinto muito, mas já fazem isso, é um programa chamado luz para todos!

Estou eu ao volante vociferando contra alguém que tinha acabado de fazer uma besteira no transito, quando o Thomaz diz pra mim:
- Mãe, o que você falou? Repete! Sou todo ouvidos!

Naquele momento me esqueci de todas suas diabruras ao longo do dia e fiquei orgulhosa, sempre gostei desta expressão e não me lembro de tê-la usado antes do 13 ou 14 anos. E, agora, estava ele ali, aos 9 anos de idade chamando a atenção da sua mãe.